Rio de Janeiro. Sonho profissional de muitos que buscam uma vida melhor. Eles vêm dos mais variados cantos do país, em especial o nordeste, região pobre e com menos perspectivas. Sonho duro, difícil de virar realidade. A vida não é fácil para esses lados, ainda mais para quem vem com pouco mais que a roupa do corpo. A história que vamos contar é comum a muitos desses, que lutaram por uma vida melhor e conseguiram.
Vir do Piauí foi uma luta. Chegar ao Rio e buscar emprego, com pouca experiência e estudo, mais ainda. Mas Waldemar Evangelista da Silva não desistiu. Esse tipo de sentimento ele nunca teve. Ao contrário: em todos os lugares que trabalhou, e foram muitos, jamais foi demitido. Fez das dificuldades, soluções.
- Chegar do Nordeste no pau de arara, com pouca cultura e sem ter profissão foi complicado. Tem que ser corajoso e acreditar. Sempre trabalhei duas, três horas a mais para o patrão. Tinha direito ao almoço, trabalhava mais uma hora e ganhava a janta, relembra Waldemar.
E com essa disposição e vontade de vencer, as chances do sucesso aumentaram. Morando na Gávea, teve a Rocinha como vizinha e começou a frequentar. Isso era o final dos anos 70. E se encantou com o que viu e jamais deixou de estar.
Em pouco tempo, juntando seu suado ordenado, abriu seu primeiro comércio na Travessa Esperança. O nome da via não poderia ser mais sugestivo. Era um bar/mercearia. Em pouco tempo, um restaurante. O padrão já era acima da média para a época e as coisas começaram a melhorar.
Trabalhando muito, se esforçando mais que os outros e lutando por uma vida melhor, continuou firme e forte. Os negócios evoluíram e ele abriu uma loja de material de construção.
De retirante sem ter para onde ir, virou um comerciante de peso na Rocinha. Sua figura passa a ser conhecida por uma característica que nunca deixou de existir: ajudar o próximo. Desde então, passa a ser uma espécie de voz da comunidade, brigando pelos problemas da Rocinha, muitas vezes até tirando do próprio bolso para auxiliar quem tem menos possibilidades.
- Os principais problemas da Rocinha estão na baixa qualidade de vida. Falta saneamento básico e sobram valas negras. Andando na comunidade, você vê a pobreza, o descaso e doenças. Além da falta de opções para as crianças daqui estudarem, relata Waldemar.
Daí veio o comércio que passou a virar um sobrenome, tamanho sucesso alcançado. Começou a trabalhar vendendo gás para a Rocinha. E o negócio prosperou de tal maneira que não há quem não conheça o Waldemar do Gás.
E se os negócios melhoraram, a ajuda também aumentou. É comum chegarmos à Vila Verde e vermos quase uma romaria em frente à sede da empresa. Não há quem passe sem cumprimentar... ou ser cumprimentado. E a maioria, sempre carente de alguma coisa, não se furta em solicitar ajuda. E Waldemar, sempre solícito e disposto a ouvir, não deixa de tentar ajudar.
Nem sempre é possível resolver. Fazer o papel do estado não é tarefa pequena. Mas acreditando que se pode, facilita. E esse piauiense jamais deixou de acreditar num mundo melhor, em se criar perspectivas e melhorias para quem carece.
E não poderia deixar de ser o primeiro homenageado desse espaço que tem por objetivo contar uma história de sucesso, que possa servir de espelho e inspiração para quem leia. Que possa ter um efeito positivo e multiplicador.
- A grande felicidade da minha vida é ter meus pais vivos. E um orgulho é ter as chances de ir pelo caminho errado e nunca ter cedido. Venci, trabalhando com dignidade. Sofrendo, sendo muito humilhado. É orgulho provar que nunca tive nada a ver com coisas erradas e chegar aqui hoje com saúde, podendo ajudar as pessoas.
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Fonte: Jornal da Rocinha (JR) - Bruno Rivéro
